September 22, 2025

CFP: conformidade LGPD para psicólogos em atendimentos digitais

A nota técnica cfp estabelece orientações essenciais para o manejo do prontuário psicológico, alinhando critérios técnicos, éticos e de proteção de dados que permitem ao psicólogo organizar atendimentos, cumprir normas do CFP e dos CRP e proteger os direitos dos pacientes segundo a LGPD. Este documento propositalmente integra recomendações sobre conteúdo mínimo do registro, segurança da informação, consentimento informado, requisitos para registro eletrônico e fluxo de compartilhamento, visando reduzir riscos éticos e legais e aprimorar a qualidade do cuidado psicológico.

Apresento a seguir uma estrutura aprofundada e prática, com aplicações diretas à rotina clínica, exemplos de campos e procedimentos, orientações para soluções digitais e para cuidados com a privacidade, tudo embasado nos princípios profissionais e regulatórios que guiam a atuação psicológica no Brasil.

Antes de aprofundar em cada aspecto técnico e regulatório, vale contextualizar por que seguir a nota técnica facilita a prática clínica e protege o profissional: além de harmonizar documentação e garantir padrões mínimos de qualidade, a nota técnica mitiga conflitos éticos relacionados a sigilo, fornece critérios para decisões em situações de risco e orienta a implementação de sistemas digitais de prontuário de forma compatível com a LGPD e com as normas do CFP e dos CRP.

Transição: a próxima seção detalha o escopo e a fundamentação da nota técnica, explicando seu papel dentro do arcabouço regulatório e ético aplicável ao prontuário psicológico.

Compreensão da nota técnica e seu lugar no arcabouço regulatório

Entender a natureza da nota técnica é condição para aplicá‑la corretamente. Ela complementa orientações já vigentes no Código de Ética Profissional do Psicólogo e nas resoluções do CFP e do CRP, oferecendo parâmetros práticos sobre documentação clínica sem substituir normas formais, mas servindo como referência técnica e interpretativa.

Finalidade e alcance

A nota técnica objetiva padronizar o conteúdo e a guarda do registro psicológico, definir critérios para registro eletrônico e orientar decisões em situações-limite (por exemplo, quebra de sigilo por risco iminente). Para o psicólogo, isso significa ter diretrizes que facilitam a tomada de decisão, reduzem variabilidade entre profissionais e aumentam a defensabilidade ética e legal de suas condutas.

Base ética e legal

Os princípios que sustentam a nota técnica são: respeito ao sigilo profissional, dever de cuidado, responsabilidade técnica, proteção de dados pessoais e transparência. Estes princípios decorrem do Código de Ética, das resoluções do CFP/ CRP e dos fundamentos da LGPD: finalidade, adequação, necessidade, livre acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança, prevenção, não discriminação e responsabilização. Para o atendimento clínico, isso implica que cada registro deve existir por uma finalidade legítima vinculada à intervenção psicológica e que o acesso e uso desses dados devem ser estritamente justificados.

Transição: com base no entendimento do papel da nota técnica, detalharemos o que deve constar no prontuário psicológico — um dos pontos centrais para praticidade clínica e conformidade regulatória.

Conteúdo essencial do prontuário psicológico: estrutura, campos e benefícios práticos

Um prontuário bem estruturado melhora a continuidade do cuidado, facilita supervisão e produção de relatórios e reduz ambiguidades em situações de auditoria ou litígio. A nota técnica define elementos mínimos que garantem qualidade documental e proteção ética.

Identificação e documentação administrativa

Campos básicos: identificação do paciente (nome completo, data de nascimento, CPF quando necessário), dados de contato, responsável legal (quando aplicável), número do prontuário, e registro do profissional (nome, CRP). Benefício prático: esses dados permitem identificar corretamente o usuário e acionar rotinas administrativas (agendamentos, faturamento, encaminhamentos) sem comprometer o foco clínico.

Anamnese e histórico clínico

Registre a queixa principal, história da queixa, história pessoal e familiar, eventos de vida relevantes, tratamentos anteriores, uso de medicação, comorbidades e avaliações psicológicas já realizadas. A anamnese deve ser objetiva e baseada em fatos. Benefício: melhora prontuário psicológico eletrônico a precisão do diagnóstico e embasa decisões terapêuticas, além de servir como registro de baseline para avaliações futuras.

Evolução clínica e notas de sessão

As anotações de evolução devem ser datadas, assinadas e conter: resumo do conteúdo do encontro, intervenções realizadas, avaliação do risco (quando aplicável), planos terapêuticos e tarefas para o paciente. Evite termos pejorativos ou juízos de valor; prefira descrições comportamentais e funcionais. Benefício prático: notas claras facilitam a continuidade do tratamento por outros profissionais ou em supervisão, e protegem o psicólogo em processos éticos.

Consentimento informado e termos específicos

Registre consentimento inicial para tratamento, consentimento específico para teleatendimento, gravação de sessão, compartilhamento de informações e uso de dados para pesquisa. O consentimento deve ser documentado de forma assinada ou eletrônica, com linguagem acessível e descrição das finalidades, riscos e direitos do titular. Benefício: protege autonomia do paciente e reduz riscos de questionamentos sobre uso indevido de dados.

Relatórios, laudos e encaminhamentos

Relatórios devem indicar objetivos, instrumentos utilizados, interpretações construtivas e recomendações práticas. Quando há encaminhamento a outros profissionais, registre motivo, data e informações comunicadas, preservando apenas o necessário. Benefício: relatórios bem elaborados tornam decisões clínicas e administrativas mais transparentes e defensáveis.

Documentos anexos e formulários complementares

Inclua instrumentos de avaliação (protocolos, escalas), termos de autorização, correspondência e registros de contato. Etiquete e armazene digitalmente de forma organizada. Benefício: facilita auditoria clínica, pesquisa e justificativa de intervenções adotadas.

Transição: seguir um padrão no conteúdo do prontuário é importante, mas a forma de armazenamento (papel ou digital) acarreta riscos e oportunidades distintos; por isso, a nota técnica orienta práticas de segurança para registros eletrônicos e físicos.

Segurança, privacidade e requisitos técnicos para prontuário eletrônico

A migração para sistemas digitais oferece ganhos de eficiência, mas exige controles técnicos e contratuais para proteger dados sensíveis. A nota técnica destaca medidas mínimas de segurança e governança, alinhadas à LGPD e aos princípios do CFP e CRP.

Classificação de dados e tratamento diferenciado

Trate o conteúdo do prontuário como dados sensíveis: informações sobre saúde mental exigem proteção reforçada. Classifique documentos (anamnese, evolução, relatórios) para aplicar controles proporcionais. Benefício: prioriza recursos de segurança para o que mais impacta a privacidade do paciente.

Criptografia e transporte seguro

Adote criptografia em trânsito (TLS/HTTPS) e em repouso (AES-256 ou equivalente) em provedores de nuvem. Em dispositivos móveis, ative criptografia do dispositivo. Benefício: reduz risco de vazamento em caso de interceptação ou roubo de equipamentos.

Autenticação, autorização e trilha de auditoria

Implemente autenticação forte (senha robusta + 2FA opcional) e controle de acesso por perfil (somente profissionais autorizados com necessidade de acesso). Registre logs de acesso, edição e exclusão com data, hora e usuário. Benefício: responsabiliza ações, permite auditoria e protege contra acessos indevidos.

Backups, redundância e continuidade

Defina política de backup regular (diária ou semanal, conforme volume), armazenamento em local separado e testes periódicos de restauração. Elabore plano de continuidade de negócio para perda de dados ou indisponibilidade. Benefício: garante que informações críticas não sejam perdidas e preserva a continuidade do cuidado.

Contratos e cláusulas com fornecedores

Ao utilizar software como serviço, inclua contrato que preveja obrigações de segurança, confidencialidade, tratamento de incidentes e subcontratação, além de cláusula sobre responsabilidade e assistência em casos de violação. Exija demonstração de conformidade técnica e certificações quando possível. Benefício: transfere responsabilidades contratuais e protege o profissional contra falhas de terceiros.

Proteção de dispositivos e práticas de escritório

Padronize políticas para uso de dispositivos pessoais, autenticação de estações, impressão controlada e descarte seguro de papéis. Evite armazenamento local sem criptografia. Benefício: diminui riscos operacionais decorrentes de práticas cotidianas inseguras.

Transição: mesmo com medidas técnicas adequadas, a gestão dos direitos dos titulares sob a LGPD exige procedimentos claros; a próxima seção explica como atender solicitações do paciente e implantar fluxos operacionais.

Direitos do titular e procedimentos para atender solicitações

A nota técnica orienta como operacionalizar direitos de acesso, retificação, anonimização, portabilidade, eliminação e revogação do consentimento, de forma que o psicólogo cumpra prazos e proteja a confidencialidade de terceiros envolvidos.

Recebimento e resposta a solicitações

Tenha formulário ou canal formalizado para solicitações, identifique e verifique a identidade do solicitante, registre o pedido e adote prazos internos para resposta. Quando houver conflito entre o direito do titular e a proteção de terceiros ou risco de dano, consulte supervisão técnica e o CRP. Benefício: reduz erros e evita exposição indevida de dados sensíveis.

Exceções e salvaguardas

Direito de eliminação pode ser ponderado em função de obrigações legais, necessidade de guarda para defesa em processos ou continuidade do tratamento. Documente justificativas para negar solicitações e informe o titular sobre motivos de forma clara. Benefício: mantém transparência e ampara decisões em eventual questionamento.

Anonimização e uso secundário

Para pesquisa ou compartilhamento que não exija identificação, utilize técnicas robustas de anonimização ou pseudonimização, com documentação do processo. Benefício: posibilita produção científica e gestão de serviços sem expor identidades.

Transição: além dos direitos individuais, existem situações de compartilhamento e quebra de sigilo previstas por ética e legislação; a seguir tratamos de como documentar e agir em casos de risco, demandas judiciais e relatórios a terceiros.

Quebra de sigilo, comunicações, tribunais e situações de risco

O prontuário psicológico pode ser solicitado por autoridades ou necessitar de comunicação quando há risco de dano. A nota técnica explicita critérios para decisão e procedimentos de documentação que protegem o psicólogo e o paciente.

Risco de dano iminente e dever de proteção

Quando houver risco real e imediato de dano ao paciente ou a terceiros, pode ser lícito agir contra o sigilo para proteger vidas, preferencialmente após tentativa de mitigação via paciente. Documente avaliação de risco, ações tomadas e justificativa técnica. Benefício: proporciona proteção imediata ao paciente e cria registro defensável da decisão.

Solicitações judiciais e administrativas

Em caso de intimação judicial ou requisição formal, registrar o recebimento e consultar assessoria jurídica ou o CRP antes de fornecer documentos. Sempre que possível, comunicar ao paciente sobre a requisição, exceto quando proibido por decisão judicial. Benefício: reduz risco de violar normas e preserva transparência quando cabível.

Compartilhamento com família ou terceiros

Compartilhar informações com familiares requer consentimento, salvo situações de risco ou incapacidade. Limite o escopo do que será compartilhado ao estritamente necessário. Benefício: mantém equilíbrio entre suporte social e proteção da confidencialidade individual.

Transição: para operacionalizar todas essas recomendações em contexto digital é necessário planejar a implementação de soluções tecnológicas; a seção a seguir apresenta um roteiro prático e critérios de escolha de fornecedores.

Implementando soluções digitais: roteiro prático e critérios de escolha

Implementar um prontuário eletrônico exige planejamento, avaliação de riscos e governança. A nota técnica propõe etapas práticas que transformam requisitos regulatórios em ações concretas no consultório ou clínica.

Mapeamento e análise de riscos (DPIA simplificada)

Mapeie tipos de dados processados, fluxos, finalidades e riscos potenciais. Documente medidas mitigadoras e monitore periodicamente. Mesmo que o psicólogo não seja obrigado a um relatório extenso, um documento simples demonstra diligência. Benefício: antecipa vulnerabilidades e orienta investimentos técnicos.

Requisitos mínimos do sistema

Exija: criptografia em trânsito e repouso; logs auditáveis; controle granular de acesso; backups automatizados; suporte a exportação de dados; e capacidade de registro de consentimentos eletrônicos. Solicite evidências técnicas do fornecedor e cláusulas contratuais que garantam responsabilidade. Benefício: assegura que o sistema protege dados sensíveis e dá flexibilidade operacional.

Contratos e documentação

Formalize contrato de prestação de serviço com cláusulas sobre tratamento de dados pessoais, incidentes de segurança, subcontratação, e direito de auditoria. Mantenha termo de responsabilidade técnica e política de privacidade atualizada. Benefício: reduz exposição legal e cria mecanismos de recurso em incidentes.

Treinamento da equipe e políticas internas

Treine colaboradores sobre boas práticas, LGPD, identificação de incidentes e uso seguro de sistemas. Documente políticas de senhas, uso de dispositivos e descarte de documentos. Benefício: transforma conhecimento em prática diária, reduz vazamentos por erro humano e uniformiza comportamento.

Plano de resposta a incidentes

Defina procedimentos para detecção, contenção, comunicação ao CRP, às autoridades e aos titulares, conforme exigência da LGPD quando houver risco relevante. Treine simulações e registre aprendizados. Benefício: minimiza impacto reputacional e legal em caso de violação.

Transição: além dos requisitos técnicos e operacionais, há armadilhas frequentes que geram problemas práticos na rotina clínica; a próxima seção descreve erros comuns e soluções práticas.

Erros recorrentes e medidas preventivas

Identificar falhas comuns permite priorizar intervenções de baixo custo com alto impacto sobre segurança e conformidade.

Uso de aplicativos pessoais e comunicação informal

Enviar prontuários ou anotações por apps de mensagens sem contrato e sem criptografia adequada é um risco comum. Solução: estabeleça canais profissionais e utilize recursos do software clínico que mantenham registro. Quando for necessário comunicar-se por canais menos seguros, registre o conteúdo mínimo e peça consentimento.

Armazenamento local sem proteção

Arquivos no desktop sem senha ou em pastas compartilhadas expõem o prontuário. Solução: criptografia de disco, políticas de acesso e backups automáticos.

Falta de documentação de consentimentos

O não registro do consentimento específico para teleatendimento, gravação ou compartilhamento cria risco processual. Solução: padrão de termos eletrônicos em cada início de modalidade de atendimento.

Ausência de logs e trilhas de auditoria

Sem registros de acesso, é impossível identificar uso indevido. Solução: escolha sistemas com trilhas de auditoria e revise logs periodicamente.

Transição: para consolidar o conteúdo técnico e regulatório, a última seção sintetiza os pontos essenciais e traz próximos passos práticos para implementação imediata.

Resumo regulatório e próximos passos práticos

Resumo conciso:

  • Seguir a nota técnica cfp implica registrar de forma completa e justificada: identificação, anamnese, evolução, consentimentos e relatórios;
  • Tratar o prontuário como dado sensível, adotando medidas alinhadas à LGPD (finalidade, necessidade, segurança, transparência);
  • Garantir sigilo profissional, mas documentar exceções técnicas (risco iminente, ordem judicial);
  • Implantar controles técnicos mínimos: criptografia, autenticação, logs, backups e contratos robustos com fornecedores;
  • Formalizar fluxos para atendimento de direitos do titular e para resposta a incidentes;
  • Capacitar equipe e padronizar políticas internas para reduzir erro humano.

Próximos passos práticos e acionáveis (checklist imediato):

  • Realize um inventário de documentos e fluxos atuais do prontuário (papel e digital);
  • Crie ou atualize um template de prontuário com campos mínimos: identificação, anamnese, evolução, avaliação de risco, consentimentos e relatórios;
  • Formalize termos de consentimento para modalidades digitais e inclua cláusula de tratamento de dados específicos (propósito, retenção, compartilhamento);
  • Escolha um sistema com criptografia e logs; solicite evidência técnica e cláusula de responsabilidade no contrato;
  • Implemente políticas de senhas e treine sua equipe sobre LGPD e fluxos internos; registre treinamentos;
  • Defina procedimento para atender solicitações de titulares e mantenha registro auditável dessas interações;
  • Documente um plano de resposta a incidentes e realize um teste básico (simulação) a cada 12 meses;
  • Consulte o CRP regional para prazos de guarda documental e orientações locais, registrando a fonte da orientação no seu manual de procedimentos.

Aplicar a nota técnica com essa abordagem transforma obrigações em práticas clínicas que aumentam a segurança jurídica, melhoram a continuidade do cuidado e fortalecem a confiança do paciente. Ao ativar as medidas técnicas e processuais descritas, o psicólogo reduz riscos de infrações éticas, problemas com a proteção de dados e rupturas no acompanhamento terapêutico, entregando cuidado mais seguro e profissionalizado.


Especialista em criar clareza.